Um grupo de assistência mutua, ou doravante denominado por GAM, é um grupo organizado com o objetivo prático de prestar assistência aos seus membros, seja em tempos de paz e tranquilidade, seja em tempos de guerra ou calamidade.
No entanto eles não servem somente para isso, eles servem para se formar laços, para facilitar a interação e treinar a operacionalização de certos procedimentos do grupo enquanto um todo.
Uma das ‘bíblias’ sobre o assunto é o livro MAGS: THE PEOPLE PART OF PREPPING – How to Plan, Build and Organize a Mutual Assistance Group In a Survival Situation por Charley Hogwood, aqui apresentado como capa ao nosso tema e o qual recomendamos desde já vividamente a sua leitura.
Os grupos de assistência mútua emergem como uma resposta coletiva a desafios sociais, econômicos e ambientais crescentes, oferecendo uma estrutura baseada na solidariedade e no apoio mútuo. Esses grupos, muitas vezes formados em comunidades, têm se mostrado essenciais em contextos de crise e também em tempos de normalidade, promovendo a coesão social e o empoderamento comunitário.
Atualmente a P&A conta com GAM’s por todo o nosso Portugal divididos em núcleos distritais.
Se estás interessado em participar, junta-te aqui.
Fundamentos, importância e funcionamento dos GAM
1. O que são Grupos de Assistência Mútua?
Os grupos de assistência mútua são organizações informais ou formais que reúnem indivíduos com o objetivo de ajudar uns aos outros em diversas situações, seja através da partilha de recursos, informações ou apoio emocional. A assistência pode se manifestar em diversas formas, incluindo:
- Suporte econômico: produtos, serviços, ou ajuda financeira.
- Assistência emocional: apoio psicológico e social em tempos de crise.
- Educação e treino: partilhando conhecimentos e habilidades.
- Apoio logístico: ajuda na organização de eventos, transporte, ou distribuição de suprimentos.
Em essência, esses grupos promovem o solidarismo, enfatizando a interdependência e a colaboração em vez da competição individualista.
2. Importância dos Grupos de Assistência Mútua
A importância dos grupos de assistência mútua é multifacetada, abrangendo diversos aspectos sociais, econômicos e culturais.
2.1 Fortalecimento da Comunidade
Um dos principais benefícios dos grupos de assistência mútua é o fortalecimento do tecido social da comunidade. Ao promover a interação e o engajamento entre os membros, esses grupos ajudam a construir laços mais fortes e uma rede de apoio que pode ser essencial durante períodos de crise. Além disso, a colaboração entre indivíduos cria um senso de pertencimento que fortalece a identidade comunitária.
2.2 Resiliência em Tempos de Crise
Em tempos de crise, como desastres naturais, crises econômicas, pandemias ou guerras, os grupos de assistência mútua tornam-se um recurso vital. Eles oferecem uma resposta rápida e adaptável às necessidades emergentes da população, muitas vezes mais eficaz do que esforços governamentais ou de grandes organizações. Essa agilidade permite que as comunidades se mobilizem rapidamente, estabelecendo prioridades e ajudando aqueles que mais necessitam.
2.3 Educação e Capacitação
Os grupos de assistência mútua frequentemente atuam como plataformas de educação e capacitação. Por meio de workshops, palestras e trocas de experiências, os membros podem aprender habilidades valiosas que melhoram sua qualidade de vida e aumentam sua capacidade de enfrentar desafios. Isso inclui desde habilidades práticas, como jardinagem e culinária, até abordagens mais complexas, como finanças pessoais e desenvolvimento sustentável.
2.4 Promoção da Autonomia
Ao incentivar a autossuficiência e o trabalho colaborativo, os grupos de assistência mútua promovem a autonomia dos indivíduos. Em vez de depender exclusivamente de ajuda externa, os membros aprendem a ser proativos em atender suas próprias necessidades e as de seus vizinhos. Essa autonomia é essencial para a construção de comunidades resilientes e sustentáveis.
3. Funcionamento dos Grupos de Assistência Mútua
Os grupos de assistência mútua podem variar amplamente em sua estrutura, mas geralmente compartilham alguns princípios e práticas comuns.
3.1 Estrutura Organizacional
Na maioria dos casos, os grupos de assistência mútua adotam uma estrutura hibrida, em que existe uma postura horizontal, onde todos os membros têm voz e participam das tomadas de decisão que são depois implementadas pela estrutura de comando e cuja cadeia hierárquica se encontra previamente definida. Isso traduz-se num ambiente de colaboração com participação de todos em tempos de paz e cujo comando pode assumir a liderança em tempos de crise, agilizando operações e assumindo a tomada de decisões criticas que de outra forma poderiam não reunir consenso levando a conflitos internos.
3.2 Reuniões Regulares
Reuniões regulares são um componente central do funcionamento dos grupos. Elas podem ser realizadas semanalmente, mensalmente ou em qualquer frequência que atenda às necessidades dos membros. Essas reuniões são oportunidades para discutir necessidades, planejar atividades, reforçar laços comunitários e resolver conflitos.
3.3 Partilha de Recursos
Um dos princípios fundamentais dos grupos de assistência mútua é a interajuda com vista à sobrevivência conjunta, como tal a disponibilização de suprimentos, equipamentos, conhecimentos ou serviços dentro da comunidade é feita de forma a garantir a sobrevivência dos que para ela comparticipam.
3.4 Comunicação e Transparência
A comunicação clara e a transparência são essenciais para o bom funcionamento de um grupo de assistência mútua. Utilizar plataformas de comunicação, como grupos de WhatsApp, e-mails ou redes sociais, pode facilitar a troca de informações e o envolvimento contínuo dos membros. Manter todos os participantes informados sobre as atividades e decisões do grupo ajuda a evitar desentendimentos e a construir confiança.
3.5 Avaliação Contínua
Para garantir a eficácia e a relevância do grupo, é importante realizar avaliações regulares. Isso pode incluir reflexões sobre o que está funcionando bem, quais áreas precisam de melhorias e como as necessidades da comunidade podem estar mudando. Esse processo de autoavaliação permite que o grupo se adapte e evolua ao longo do tempo.
4. Desafios e Oportunidades
Embora grupos de assistência mútua ofereçam muitos benefícios, eles também enfrentam desafios. Entre esses desafios, destacam-se:
- Sustentabilidade: manter o interesse a longo prazo pode ser difícil, especialmente se os membros enfrentam suas próprias dificuldades.
- Gestão de Conflitos: O grupo pode posto à prova em situações de desacordo ou por competição de recursos limitados pelo que deverá ter uma estrutura de comando bem definida.
- Reconhecimento: muitas vezes, o trabalho realizado por esses grupos não recebe o reconhecimento que merece por parte da sociedade ou das autoridades.
Por outro lado, esses desafios também oferecem oportunidades. Enfrentar e superar conflitos pode fortalecer os laços entre os membros e promover habilidades de resolução de problemas. Além disso, um grupo bem-sucedido pode inspirar outras comunidades a formarem seus próprios grupos de apoio, ampliando a rede de solidariedade.
Conclusão
Os grupos de assistência mútua são uma expressão poderosa da solidariedade humana e da capacidade comunitária de enfrentar adversidades. Eles não apenas oferecem suporte prático em tempos de necessidade, mas também ajudam a construir comunidades mais coesas e resilientes. Em um mundo cada vez mais individualista e marcado por desigualdades, a promoção e o fortalecimento desses grupos podem ser um caminho decisivo para um futuro mais justo e solidário. Ao investir em assistências mútuas, as sociedades podem cultivar um espírito de cooperação que transcende crises e se torna uma característica fundamental de suas interações quotidianas.